ESQUERDA, DIREITA OU LIBERTÁRIO?
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A pouco, em março de 2015, vivenciamos a maior manifestação da história do Brasil e agora estamos à véspera do que pode ser algo muito maior, logo, considero o momento oportuno para escrever algumas palavras, da forma menos tendenciosa possível, que definam um pouco melhor o que é ser esquerda, direita ou libertário. Não me lembro de nenhum material que tente definir essas posições ideológicas de forma clara e tentando manter alguma imparcialidade..
ESQUERDA:
O elemento norteador do pensamento de esquerda é a eterna luta de classes onde o proletariado é subjugado pela classe burguesa dominante. Nas interpretações contemporâneas da esquerda esse conceito extrapola o conceito de classes sociais e acomoda sob essa égide todos os grupos que se auto intitulam como minoria. É inerente a esse tipo de pensamento uma postura mais reativa ante as distorções sociais e/ou comportamentais e o ‘politicamente correto’ passa a ser o discurso dominante. Imediatismo é outra característica latente e o objetivo é solucionar os problemas no curto prazo, ignorando as correlações para o médio-longo prazo que serão trabalhadas apenas quando o futuro se tornar presente.
A distribuição de renda é outra bandeira amplamente defendida e o Estado é o vetor lógico para uma distribuição mais igualitária dos recursos e, portanto, é necessário o crescimento da máquina pública e o poder de intervenção do Estado. A gestão econômica deve ser subserviente ao Estado.
A meritocracia, por ser um elemento de diferenciação, é desencorajada, contudo a esquerda considera que deve ser criado mecanismos para “nivelar” oportunidades e condições diferenciadas para aqueles considerados como ‘minorias’.
Inexiste parâmetros legais e morais pétreos na esquerda, inclusive a independência de poderes (legislativo, executivo, juduciário e, – o que podemos considerar atualmente como um 4º poder- a imprensa), logo a lei pode ser adaptada e todos seus parâmetros podem ser “recalibrados” para garantir a igualdade entre as classes.
DIREITA:
A alcunha de ‘conservador’ reside no fato de que a direita tende a ser menos volúvel as mudanças legais e comportamentais, mas isso não quer dizer que a direita é imutável, somente que suas mudanças são mais lentas e graduais.
Para a direita existem parâmetros legais pétreos que é o Direito a propriedade privada e a responsabilização individual. Meritocracia e o respeito ás convenções legais vigentes são valores amplamente defendidos.
Para a direita contemporânea a luta de classes está fora de contexto e que não deve haver qualquer diferenciação legal ou institucional entre os grupos da sociedade. É função do Estado promover as condições básicas necessárias para que todas as pessoas possam competir igualitariamente.
Esta corrente de pensamento defende que a economia deve ser livre da intervenção estatal e a função do Estado é de proteger a legislação vigente, sobretudo suas cláusulas pétreas e, se necessário, regular algumas questões comportamentais. Não é consenso se a ‘trias polititicas’ deve ser plenamente independente.
LIBERTÁRIOS:
A principal bandeira dos libertários é a redução mínima do estado, o quão deve ser esse mínimo vai depender de cada corrente de pensamento libertária. Comum a todos, é que a economia deve ser totalmente independente as decisões do Estado, principalmente do poder executivo.
Tangenciando o pensamento de direita, os Libertários defendem como cláusula pétrea o direito inalienável a propriedade privada, a meritocracia e a responsabilização individual. Contudo, divergem da direita, sobre o papel do estado em intervir nas convenções sociais e comportamentais. Para os libertários, não é função do estado intervir nas opções pessoais, exceto quando ela intervém na liberdade de outro indivíduo.
Para os libertários, as intervenções do Estado devem ser coibidas pois gerarão correlações, muitas vezes impossível de serem previstas, que gerarão novas distorções e conflitos no futuro. Portanto, só existe igualdade e prosperidade quando todos são tratados da mesma forma, logo diferenciações de grupos, proteções de classes profissionais e correlatos produzem resultados negativos, principalmente para a sociedade como um todo. A independências dos poderes é outra cláusula pétrea, logo é inadmissível qualquer relação entre os poderes da república.
Previsibilidade e planejamento de longo prazo são valores muito defendidos, principalmente porque o desenvolvimento econômico sustentável depende dessas condições.
A independência plena dos poderes é outra cláusula irrevogável. Por fim, a função do estado é garantir a manutenção das regras vigentes e promover estabilidade para que a sociedade civil possa ela mesmo se organizar e atender suas demandas e ajustar as distorções, onerando o mínimo possível o contribuinte, pois na visão do libertário o Estado é estéril por sua própria natureza.
Algumas perguntas e respostas rápidas sob o editorial apresentado.
E porque não só ‘esquerda ou direita’?
A formação histórica e econômica que tive me apresentou inúmeras correntes de pensamento, cisões muitas vezes sutis dentro das próprias correntes de pensamento tradicionais, mas não pretendo me estender a analisar tantas variações. Mas acredito que a maioria das correntes de pensamento ideológico-políticas orbitam essas três temáticas. Pensando em polos, onde a esquerda é plenamente antagônica à direita, é difícil alocar o pensamento libertário dentro dessa régua, apesar de que os libertários tenderam a se posicionar mais próximos à direita, eles divergem de ambos os posicionamentos (esquerda e direita) principalmente no que tange o tamanho e a função do Estado.
Qual a origem da definição: Esquerda, Direita e Libertário?
A origem da caracterização de esquerda ou direita está na Revolução Francesa. Após a queda da monarquia, constituiu-se a Assembleia Nacional para governar o país e nessa assembleia, por questões de afinidade pessoal, os mais moderados e conservadores tendiam a sentar à direita na plenária, enquanto que os mais revolucionários sentiam-se mais a vontade sentando-se à esquerda. Os Libertários são denominados dessa forma por terem como dogma ao seu pensamento a plena liberdade.
Essa reflexão é mais de centro, ou busca reflexões nos extremos também?
Nem Chauí, nem Olavo, nem Constantino, Minhas reflexões estão mais próximas ao centro. Não que eu tema qualquer crítica, ou porque tenho essa ou aquela tendência – posso dizer que já ‘flertei’ com as três escolas, do centro ao extremo – ou, ainda, que eu queira “aliviar” o viés de cada escola. Minha escolha por orbitar o centro é porque escrevo essas linhas para o cidadão comum, que está distante dos debates polarizados. Ademais, se tenho uma crítica a todas as escolas, é que os extremos tendem a não produzir bons resultados.
E porque esse debate tem ganhado tanta força?
O mainstream ideológico atual tende claramente ao pensamento de esquerda, sobretudo na academia e nas áreas dominadas pelas ciências humanas, contudo essa influência tem perdido força e as vozes outrora sufocadas passaram a ser ouvidas e difundidas, ampliando o debate e quebrando o monopólio ideológico. Pessoalmente, independente do posicionamento, entendo que pouca pluralidade é ruim para o aperfeiçoamento de qualquer ciência e/ou debate.