Lider x Chefe de Torcida
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Recentemente assisti a trilogia ‘Atlas Shrugged’ (A Revolta de Atlas), tendo a Parte 1 disponível no NetFlix. A trilogia é bastante interessante, exceto o 3º filme que, na minha opinião, encerrou a série de forma muito ruim, sobretudo por abandonar a ideia central e focar nas relações, forçosamente direcionadas, dos personagens. Mas enfim, este texto não é uma crítica cinematográfica, mas sim uma reflexão sobre o tema proposto pelo filme.
Para quem não conhece o mito de Atlas, sucintamente, ele era um dos Titãs que atacou o Olimpo e derrotado por Zeus recebeu o castigo de sustentar o céu por toda eternidade. Comumente a figura desse Titã é retratada como o gigante que sustenta o mundo nas costas.
A trilogia conta a história de um EUA fictício onde o papel do estado cresce demasiadamente, apoderando-se e controlando todos setores da economia, sufocando sobretudo os empreendedores, técnicos e engenheiros, que passam a se enxergarem como o Atlas do mito, indesejados e obrigados a sustentar toda a estrutura. Logo, esse controle estatal começa a criar distorções econômicas e escassez (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência...bem, ou não). Nesse cenário de opressão à livre iniciativa, empreendedores e pensadores começam a sumir, deixando todo o controle das empresas e da nação para políticos, sindicalistas, professores e empresários dependentes dos favores estatais que, inexoravelmente, aprofunda a crise do sistema, haja vista a incapacidade destes para gerar riqueza e resolver problemas.
Pretendo explorar mais o tema, contudo nesse texto quero propor uma breve discussão sobre Liderança, um item fundamental para qualquer empreendimento competitivo, mas que, ao meu ver, é tratado de forma fantasiosa na maioria das empresas, sobretudo no Brasil.
Há tempos leio sobre a “escassez de líderes” e todo o tipo de retórica prolixa que orbita o assunto, contudo, afastando-me das realidades utópicas e fixando-me na realidade crível ouso afirmar que na prática as Empresas têm buscado erroneamente não o líder, mas o ‘chefe de torcida’, independente do tamanho ou segmento da empresa.
Mas qual a diferença?
Dentre tantos grandes líderes, como Sun Tzu, Steve Jobs, Ford, Confucio, Tatcher e tantos outros que “deixaram sua marquinha no universo”. Observando estes ícones podemos identificar, apesar das diferenças e dos contextos, algumas características comuns como a dedicação, perfeccionismo, honestidade, disciplina, criatividade, rigor, curiosidade, temeridade e sobretudo intolerância com a mediocridade e a ausência de meritocracia.
Já aqueles que rotulo como “chefes de torcida” são caricaturas carismáticas, que sempre estão fantasiando a realidade e buscando desculpas externas para o fracasso. São míopes quanto a realidade do mercado e naturalmente inimigos de temas como a “organização que aprende” (‘Quinta Disciplina’, Peter M. Senge) e a “demissão de idiotas” (‘A cabeça de Steve Jobs’, Leander Kahney), pois expõem suas incompetências como líder (porque será que pensei na Dilma como exemplo?). São arrogantes, aduladores, preguiçosos, vaidosos, conformados, bairristas, copistas, hipócritas e principalmente avessos a meritocracia, preferindo o famoso “Q.I.” (“quem indica”) - acho até que poderia escrever um livro sobre essas e tantas outras características dos “chefes de torcida”, mas enfim, sejamos objetivos.
Diante deste contraste, surge um segundo questionamento. Porque na maioria das empresas os aduladores conseguem se sobressair mais que os verdadeiros líderes, normalmente a margem das decisões ou mesmo afastados das empresas? Minha experiência aponta principalmente para dois motivos.
Sem me estender, o primeiro motivo é o carisma. Líderes são críticos e intolerantes com a mediania; dificilmente serão dóceis ou aduladores, portanto logo recebem a pecha de persona non grata, enquanto que os “chefes de torcida” são carismáticos e tolerantes. Um segundo motivo é que o Líder expõe a mediocridade e seu antagonista deleita-se com ela pois oculta seus fracassos.
Muito mais poderia ser dito, mas creio que o texto já está demasiadamente extenso, então para finalizar gostaria de propor um desafio aos gestores que leem este texto para tentar identificar os verdadeiros líderes em seu grupo. Em uma reunião proponha uma ideia na qual você sabe que o resultado será negativo para o grupo, mas nada esdrúxulo para não desconfiarem da intenção. Aqueles que apoiarem sua ideia demita-os imediatamente pois estes são os aduladores, os que ficarem em cima do muro ou questionarem de forma muito sutil, mantenha-os até achar um verdadeiro líder como substituto, ou mesmo mantenho-os em cargos mais operacionais e menos estratégicos. Agora, aqueles que se opuserem veementemente e tomarem uma postura verdadeiramente mais crítica estes sim devem ser exaltados.
Como diria Steve Jobs:
-Contrate apenas jogadores nota 10, demita os idiotas.